A Câmara Viajante | | | Que pode a câmara fotográfica? Não pode nada. Conta só o que viu. Não pode mudar o que viu. Não tem responsabilidade no que viu. A câmara, entretanto, Ajuda a ver e rever, a multi-ver O real nu, cru, triste, sujo. Desvenda, espalha, universaliza. A imagem que ela captou e distribui. Obriga a sentir, A, driticamente, julgar, A querer bem ou a protestar, A desejar mudança. A câmara hoje passeia contigo pela Mata Atlântica. No que resta - ainda esplendor - da mata Atlântica Apesar do declínio histórico, do massacre De formas latejantes de viço e beleza. Mostra o que ficou e amanhã - quem sabe? acabará Na infinita desolação da terra assassinada. E pergunta: "Podemos deixar Que uma faixa imensa do Brasil se esterilize, Vire deserto, ossuário, tumba da natureza?" Este livro-câmara é anseio de salvar O que ainda pode ser salvo, O que precisa ser salvo Sem esperar pelo ano 2 mil. | | | Autor: Carlos Drummond de Andrade | |
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